Objetivo principal da iniciativa foi produzir notícias e preencher lacunas de informação sobre a pandemia de Covid-19 diretamente do território indígena Kaingáng, a aldeia Serrinha, no RS.

*Informe Aldeia em Pandemia.

Um dos desafios para profissionais indígenas, independente da área do conhecimento onde atuem é avançar na abertura e criação de espaços ligados a demandas mais amplas dos povos indígenas.

Como jornalista profissional e mulher indígena pertencente ao povo Kaingáng do Rio Grande do Sul, junto a outros profissionais indígenas e não indígenas da área da Saúde, Cultura e Educação, pude desenvolver durante o primeiro semestre de 2021, a iniciativa “Ẽmã tỹ Serrinha ki Kanhgág ag covid-19 kato jẽgjẽg – Povo Kaingáng da aldeia Serrinha combatendo a Covid-19”, de caráter informativo, em território tradicional Kaingáng no RS.

Trabalhos informativos como esse, de autoria indígena e ocorrendo diretamente de uma comunidade indígena são ainda exceções no campo do jornalismo brasileiro, onde geralmente, os meios de comunicação permanecem invisibilizando povos indígenas, suas dinâmicas de vida e interesses, gerando lacunas de informação.

Também é fato que trabalhos informativos conduzidos por indígenas nem sempre ocorrem no tempo e na velocidade que poderiam acontecer, sobretudo, devido a realidade escassa de investimentos financeiros para que isto ocorra e garanta o direito destas populações ao acesso de informações, principalmente em um momento crítico como na pandemia de Covid-19.

Neste sentido, o governo brasileiro abandonou os povos indígenas no que chama de comunicação de risco, em que orienta uma intensificação das atividades educativas para a população indígena com divulgação das informações sobre a doença e medidas de prevenção sobre a infecção humana pelo novo coronavírus, Covid-19, inclusive por meio de materiais informativos, além de traduzir para língua indígena, sempre que possível, materiais informativos sobre a doença e medidas de prevenção.

Combater vácuos como esses é parte das lutas históricas por direitos dos povos originários como o estabelecimento de seus próprios meios de comunicação, em seus próprios idiomas e sem qualquer discriminação, conforme aponta a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas.

Dito isto, outra vez agradeço. Que venham mais e novas notícias sobre as populações indígenas a partir de seus integrantes e do circuito interno de informações em suas comunidades e fora delas. Trazer estas percepções é preciso.

Escrito por: Sônia Kaingáng, primeira indígena jornalista do povo Kaingáng, especializada em Educação, Diversidade e Cultura Indígena. Cobre temáticas indígenas em Educação, Patrimônio Cultural, Conhecimentos Tradicionais e Biodiversidade, tendo atuado profissionalmente em organizações indígenas nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sul. Atualmente pelo Instituto Kaingáng – Inka.

A reprodução deste conteúdo não é permitida.

MEIOS DE COMUNICAÇÃO EM GERAL, PERMANECEM INVISIBILIZANDO POVOS INDÍGENAS,
SUAS DINÂMICAS DE VIDA E INTERESSES.
Fotos: Informe Aldeia em Pandemia (Sônia Kaingáng, Camila Roberta Perin)

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