Desenvolvimento de material de comunicação especializado para a população indígena local é utilizado como estratégia importante na compreensão de fatos sobre a pandemia.

* Informe Aldeia em Pandemia.

Uma preocupação constante no país desde o início da pandemia é a aglomeração de pessoas.

No contexto de povos indígenas, combater esta prática, que é uma medida de prevenção a Covid-19, é dificultado devido a dinâmica de vida coletiva das populações indígenas, com a presença de famílias numerosas convivendo em um mesmo lugar. Com o andamento da vacinação, o tema da aglomeração segue nos territórios indígenas.

Para auxiliar nessa luta contra a Covid-19 é que estratégias importantes como o desenvolvimento de materiais de comunicação especializados para populações indígenas locais podem ser utilizados na compreensão de fatos sobre a pandemia. É o que apresenta o novo painel instalado próximo à RS-324, no município de Ronda Alta, posicionado entre vias de acesso ao setor principal da Terra Indígena (TI) Serrinha, do povo Kaingáng.

A ação é parte de uma iniciativa que apoia a divulgação de informações sobre a Covid-19 na região da América Latina e Caribe e apresenta aos indígenas, de forma clara e direta, que evitem aglomerações. O material é direcionado aos indígenas mais jovens que são o público de maior circulação no local, contendo mensagem elaborada em português e kaingáng, com desenho ilustrado por artista indígena da Comunidade Serrinha para esta finalidade.

A médica Kaingáng, Lucíola Nivãn, que reside e trabalha em Serrinha, esclarece sobre as dificuldades quanto ao distanciamento social em seu povo. “No dia a dia do Kaingáng, a coletividade experimentada como modo de vida é a barreira mais difícil a se desmobilizar nesta pandemia, não pela falta de entendimento ou pela falta de respeito, mas pela herança cultural onde encontramos núcleos familiares extensos que fazem parte da organização social dos povos indígenas”.

Outros materiais de comunicação visual também foram utilizados na contenção a Covid-19 em Serrinha no ano de 2020, mas seguem como iniciativas de exceção entre os povos indígenas brasileiros como explica a gestora de projetos indígenas e advogada, Susana Fakój.

“Os itens de comunicação com foco em informar a população indígena sobre temas como a Covid-19 são muito importantes, especialmente nas aldeias indígenas que carecem de informações confiáveis. Mas estas iniciativas são ainda incomuns devido a fatores como a dificuldade de captar recursos específicos para a produção de materiais dessa natureza, que também requer um trabalho conjunto de indígenas que possam por exemplo, traduzir, desenhar, programar ou elaborar um conteúdo especializado para este público. O que parece simples é na realidade um grande desafio para tornar concreta ações desse tipo”, pontua Susana.

Escrito por: Sônia Kaingáng, jornalista indígena independente, especializada em Educação, Diversidade e Cultura Indígena. Cobre temáticas indígenas em Educação, Patrimônio Cultural, Conhecimentos Tradicionais e Biodiversidade, tendo atuado profissionalmente em organizações indígenas nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sul. Atualmente pelo Instituto Kaingáng – Inka.

PAINEL SOBRE COVID-19 INSTALADO NA TERRA INDÍGENA SERRINHA
DO POVO KAINGÁNG.
Foto: Sônia Kaingáng

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