Considerado um dos principais líderes espirituais Kaingáng, o ancião faleceu nesta terça (09), aos 102 anos de idade, deixando importantes ensinamentos para a educação e cultura do povo indígena Kaingáng.

A Organização Indígena Instituto Kaingáng/Inka lamenta profundamente o falecimento do Kujá Jorge Garcia, pertencente a Terra Indígena Nonoai, onde nasceu e faleceu, chamado pelo nome “Kagnãn”, em língua Kaingáng. Sua trajetória marcante está ligada à cultura Kaingáng e sua forma tradicional de ensino e aprendizagem, baseada na oralidade transmitida pelos mais velhos, uma prática histórica respeitada pelo povo Kaingáng.

Jorge Garcia recebeu o prêmio Trajetórias Culturais/Mestra Sirlei Amaro pelo Governo do Rio Grande do Sul, junto do filho e sucessor, Pedro Garcia, reconhecido na mesma edição do prêmio em 2021.

O Mestre da Cultura Kaingáng contribuiu grandemente para a pesquisa, o registro e divulgação da nossa cultura Kaingáng e estimamos sua memória, sendo ele ativo colaborador do Instituto Kaingáng desde sua fundação em 2002 nas ações educativas e culturais da organização.

Entre seus diversos trabalhos pelo Inka, encontram-se registros fotográficos em livros, contações de história, participação em audiovisuais e entrevistas concedidas pelo líder espiritual como nas produções “Kujá”, “Kamẽ e Kanhrú”, “Prêmio Griô na Escola e na TV”, e mais recentemente no projeto “Cerâmica Tradicional Kaingáng/Kanhgág Go’or”, disponível na internet no canal do Inka no YouTube e na reportagem sobre a perda da araucária e seu impacto na cultura Kaingáng, em colaboração para a agência de notícias Mongabay em 2022.

Jorge Garcia deixa grande legado cultural de caráter espiritual e educativo para todo o povo Kaingáng, e mantinha um trabalho constante nas escolas indígenas, universidades, espaços culturais e outros na região Sul e Sudeste do Brasil. Que seu exemplo possa ser perpetuado pelas presentes gerações indígenas Kaingáng, dando continuidade à herança cultural tão relevante transmitida pelo ancião.

Por: Sônia Kaingáng

Foto: Arian Kãgfér