Final das Consultas Públicas alcança resultado bem sucedido com aprovação do Protocolo que reúne proposições indígenas dos quatro estados onde habita o povo Kaingáng e deixa reflexão sobre a importância do processo de união dos Kaingáng como um só povo, nesta terça (07), em Tupã (SP).
Chega ao fim as etapas das Consultas Públicas junto ao povo Kaingáng do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo sobre o uso de suas expressões culturais tradicionais em obra audiovisual, que resultou na criação inédita do 1⁰ Protocolo Comunitário Kaingáng acerca do tema, reunindo propostas de representantes indígenas do povo Kaingáng no sul e sudeste do Brasil.
Desafios das Consultas
Entre os grandes desafios das Consultas o consenso era um dos maiores por ser o povo Kaingáng numeroso, o terceiro maior no país com cerca de 60 mil pessoas. Dessa forma, foi reunido um recorte representativo do povo Kaingáng em cada Consulta, atendendo o equilíbrio de gênero, grupos culturais, organizações e coletivos Kaingáng, lideranças tradicionais, professores (as), anciãos, Kujás (líderes espirituais), artesãos e acadêmicos indígenas.
Por abordarem temas jurídicos e legais, foram usadas metodologias específicas para povos indígenas nas Consultas com o objetivo de alcançar o maior esclarecimento possível da discussão aos participantes indígenas como a árvore dos saberes, além do uso de teatro com enfoque no papel das mídias digitais no contexto de povos indígenas para que os temas fossem abordados de forma acessível.
Sobre os desafios da realização das Consultas, o professor e historiador Bruno Ferreira, avalia que uma grande dificuldade foi reunir os Kaingáng e ultrapassar barreiras como a desconfiança que tem sido gerada historicamente pelo sistema individualista não indígena.
“O Kaingáng sempre foi coletivo, mas com o passar do tempo tornou-se desconfiado. Por isso, reunir os Kaingáng nesta Consulta Pública e mostrar para eles o quanto somos coletivos, o quanto precisamos um do outro, o quanto cada um faz parte desse povo e que por trás de cada Kaingáng tem um coletivo, trouxe isso. Que as Consultas sirvam como reflexão para avançar no processo de união do povo Kaingáng”, avaliou.
Em sua conclusão, Andila Kaingáng, presidente do Instituto Kaingáng afirmou que, “essa é a oportunidade de mostrar que temos cultura e organização social e de se fortalecer, é um benefício muito grande para ajudar naquilo que estamos perdendo”.
Na finalização da Consulta Pública aos Kaingáng de SP, no belo e contextualizado espaço do Museu Histórico Pedagógico Índia Vanuíre, o cacique Ronaldo da Terra Indígena Icatu recordou, “vocês não imaginam o que a gente está passando aqui hoje, a mistura dos Kaingáng lá do Rio Grande do Sul, às vezes é uma linguagem que é diferente da nossa, mas não fiquem só pensando que a linguagem é diferente porque os nossos costumes são todos iguais, corre o mesmo sangue no nosso corpo aqui”, declarou o cacique.
Os resultados das Consultas como a criação do Protocolo Comunitário deverá ser consolidado por escrito nos próximos meses e publicizado para todo povo Kaingáng. Além do Protocolo Comunitário, a repartição coletiva dos benefícios pelo uso das expressões culturais tradicionais Kaingáng em obra audiovisual incluirá materiais didático pedagógicos bilíngues para as escolas Kaingáng e formações de capacidade voltadas para o público Kaingáng, principalmente educadores e acadêmicos indígenas assegurado equilíbrio de gênero e a participação dos anciãos e kujás – os líderes espirituais Kaingáng.
Escrito por: Sônia Kaingáng, jornalista indígena independente, especializada em Educação, Diversidade e Cultura Indígena.
*Permitida reprodução, desde que citada a fonte.