Lideranças indígenas, anciãos, professores, acadêmicos, mulheres, jovens e crianças indígenas integram Consulta Pública para elaboração de protocolo comunitário de uso de expressões culturais tradicionais Kaingáng em obra audiovisual e de repartição coletiva de benefícios, que ocorre nesta quinta, (05), em Londrina, no Paraná.

A Organização Indígena Instituto Kaingáng – Inka, e seu Ponto de Cultura Kanhgág Jãre (Raiz Kaingáng), junto da Organização Indígena Juventude Kaingáng Nẽn Ga, da Terra Indígena de Apucaraninha (PR), e Instituto Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual (Inbrapi), receberam os delegados Kaingáng para o início dos trabalhos da 1ª Consulta Pública no local.

Esta é a primeira de quatro consultas públicas que serão realizadas em janeiro e fevereiro no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Paraná, onde o tema central da discussão é o uso de expressões culturais tradicionais e sua utilização em uma proposta de obra audiovisual através da criação de um protocolo comunitário para este fim, inédito entre o povo Kaingáng.

A abertura oficial do evento foi iniciada com uma roda de conversa sobre a abordagem do tema, onde participaram a presidente do Inka, Andila Nivygsanh Kaingáng, a membro do Inka e educadora, Susana Kaingáng, o historiador e professor, Bruno Ferreira, o líder da Juventude Kaingáng Nẽn Ga, Anilton Ayn My e o advogado e membro executivo da Produtora Floresta, Thiago Pedroso.

A programação incluiu oficinas de teatro do oprimido para os participantes indígenas sob a coordenação da artista e arte educadora Vãngri Kaingáng e dos professores indígenas para fomentar o debate e o levantamento de propostas.

Árvore de Saberes

Na sequência, foi apresentado o Contexto Legal de proteção de expressões culturais tradicionais ministrado pela advogada e educadora, Fernanda Kaingáng, que utilizou a Árvore dos Saberes (Kanhró to Ka) como  metodologia específica para melhor compreensão de uma série de assuntos pertinentes para os debates como educação escolar indígena, cultura indígena, tutela, livre determinação e outros.

O professor e historiador indígena do povo Kaingáng, Bruno Ferreira opinou sobre a metodologia usada. “Quando discutimos tutela, nem nossas comunidades sabem o que é isso, a dependência é muito forte, essa é uma luta nossa, desde a década de 80 que estamos falando nisso, então a consulta pública passa por esse espaço de discussão para que indígenas possam dominar melhor sobre alguns assuntos. Devemos saber como a tutela entrou em nós, devemos saber a formação dela, para não reproduzir do mesmo jeito. São essas questões que estão circulando entre nós e é importante essa metodologia para a nossa compreensão”, declarou.

Para o coordenador e professor indígena Tiago Mãfár da Terra Indígena Barão de Antonina (PR), “a tutela ainda nos prejudica, o indígena não precisa ser tutelado pelos brancos. Essa parte de tutela ainda nos prejudica muito, nós professores indígenas ainda precisamos mudar, temos esse papel”.  

De acordo com a professora Gilda Kuita da Terra Indígena Apucaraninha (PR), um passo vital para qualquer ação hoje “é buscar o fortalecimento e a revitalização da cultura, do conhecimento Kaingáng, dos professores indígenas e da escola”, destacou.

Para a liderança indígena Ivan Britis Rodrigues da Terra Indígena de Apucaraninha, “a importância dessa consulta prévia, livre e informada é só o início. Não imaginávamos que teria essa magnitude e os temas que trouxemos, fico contente de estarmos debatendo isso. O modelo adotado aqui poderá servir para mais territórios indígenas”, externou.

Para Andila Kaingáng é hora dos Kaingáng se unirem, “Nós precisamos nos dar o direito de ter essa livre determinação, temos de fazer um trabalho de conscientização junto com nosso povo e já é hora de colocar isso em ação. Hoje vocês têm uma formação muito melhor que a nossa de maneira que podemos avançar. A nossa cultura é o carro chefe para nós exigirmos os nossos direitos”, explicou.

Para a líder da Juventude Kaingáng Nẽn Ga, Nyg Kuita, “quando as parcerias vêm, não devem ser para dois ou três Kaingáng, onde está de fato o compromisso das empresas com a cultura Kaingáng? Então que esse modelo que está sendo construído aqui sirva para outros povos também. Cultura é respeito, é paridade, todos tem espaço. É um marco histórico para nós estar discutindo isso. Isso é livre determinação, nós estamos fazendo, não pedimos para ninguém fazer isso”, defendeu a jovem.

A programação da 1ª Consulta Pública para elaboração de protocolo comunitário de uso de expressões culturais tradicionais kaingáng e de repartição coletiva de benefícios segue amanhã, sexta (06).

Escrito por: Sônia Kaingáng, jornalista indígena independente, especializada em Educação, Diversidade e Cultura Indígena. Cobre temáticas indígenas em Educação, Patrimônio Cultural, Conhecimentos Tradicionais e Biodiversidade, tendo atuado profissionalmente em organizações indígenas nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sul. Atualmente pelo Instituto Kaingáng – Inka.

CHEGADA DA DELEGAÇÃO INDÍGENA KAINGÁNG PARA A CONSULTA PÚBLICA EM LONDRINA NO PARANÁ. Foto: Sônia Kaingáng
ABERTURA OFICIAL DA CONSULTA PÚBLICA EM LONDRINA (PR). NA RODA DE CONVERSA, (EM PÉ) ANILTON AYN MY, (SENTADOS) ANDILA NIVYGSANH – INKA, SUSANA KAINGÁNG – INKA, BRUNO FERREIRA E THIAGO PEDROSO (PRODUTORA FLORESTA). Foto: Sônia Kaingáng
A ARTISTA VÃNGRI KAINGÁNG (INKA), PROFESSORES E PARTICIPANTES INDÍGENAS NA OFICINA DE TEATRO DA PRIMEIRA CONSULTA PÚBLICA EM LONDRINA NO PARANÁ. Foto: Sônia Kaingáng
METODOLOGIAS ESPECÍFICAS PARA POVOS INDÍGENAS: ÁRVORE DOS SABERES. Foto: Sônia Kaingáng
OFICINA DE PINTURA CORPORAL E FACIAL. TRADIÇÃO E INOVAÇÃO NOS GRAFISMOS KAINGÁNG. Foto: Sônia Kaingáng

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