Na segunda e última parte dessa reportagem, saiba as oportunidades de trabalho encontradas por indígenas do povo Kaingáng em resposta a pandemia de Covid-19.

*Informe Aldeia em Pandemia.

Na pandemia, um nicho de oportunidades é promovido por editais ou fundos de emergência para populações vulneráveis promovidas por governos, entidades ou cooperações de nível local, estadual e nacional.

Estes editais exigem propostas de trabalho que tratam sobre diversos temas como meio ambiente, cultura, tecnologia, educação, patrimônio material, entre outros. Neles, é preciso apresentar ações que oportunizam trabalhos conforme o objetivo para os quais o edital está voltado.

O cacique e conselheiro Luís Alan Retânh Vaz, do Acampamento Fosá do povo Kaingáng, na cidade de Lajeado no RS, junto da esposa Mari Teresinha Franco, inscreveram durante a pandemia um projeto de formação e atuação do grupo cultural de dança do Acampamento Fosá, o “Rã Jur”, que em idioma Kaingáng significa “Nascer do Sol”, formado por dezenas de jovens, principalmente meninas, por meio de um edital do Estado do RS, e conseguiram a aprovação.

Para que isso ocorra é necessário atenção aos editais, prazos e obtenção de documentações solicitadas. Como o processo de inscrição geralmente ocupa tempo, Luís Alan dividia a tarefa com a esposa. Uma vez aprovado, os trabalhos passam a ser monitorados até a conclusão, onde os resultados devem ser apresentados.

Sobre a participação no edital, Luís Alan afirma. “A gente tem o hábito de pesquisar, então isso foi uma busca de informação da nossa parte e aprendemos muito com isso”.

O jovem Ivan Claudino, de 19 anos, da Comunidade Serrinha, trabalha desde os 14 em serviços pesados na roça para ajudar na renda familiar, que inclui o pai, a mãe e duas irmãs. Ele passou a integrar há pouco mais de um ano, iniciativas de educação e cultura indígena promovidas em Serrinha.

“Eu me destaquei na pintura e começaram a me chamar. Eu desenhava desde pequeno, fazia mais na escola, mas pra trabalhar como tô fazendo hoje, começou no ano passado”, diz ele.

Ivan trabalhou no início de 2021 no projeto “Kanhgág Tỹ Nén Sῖnvῖ Hár”, um projeto de divulgação das boas práticas educativas e culturais do povo Kaingáng, onde ele e mais quatro jovens indígenas apresentaram sua arte em tela.

Sobre o cenário de trabalho na pandemia, o jovem sinaliza, “quem mora aqui na aldeia não tem muito o que fazer, basicamente não tem onde achar emprego. Quem tinha trabalho antes da pandemia continuou e os que não conseguiam aqui na área, já não conseguiram achar mais nada”.

Segurança Alimentar

Outro foco dos editais foi garantir a segurança alimentar das populações indígenas que assim como a população de baixa renda no país, foi alcançada pela fome.

Projetos dessa natureza contribuíram para que os indígenas ficassem menos vulneráveis a contaminação por Covid-19 nos meses em que os governos locais no RS reforçaram as medidas de isolamento social, restringindo a circulação de pessoas nas cidades e no comércio para conter a doença.

A procura desses editais pelas comunidades indígenas durante a pandemia acabou chamando a atenção da opinião pública sobre o estado de miséria em que muitos indígenas vivem hoje nas aldeias, gerando desdobramentos acerca de temas polêmicos como o arrendamento de terras indígenas para o agronegócio, corrupção de lideranças tradicionais indígenas e uma série de injustiças que permanecem ocorrendo nas comunidades, acirrada pela pandemia de Covid-19, promovendo tensões e conflitos.

Como aprendizado nesse contexto de busca por oportunidades de trabalho e renda, o cacique Luís Alan compartilha. “Temos outros parceiros além dos projetos, eles fazem doações, temos ainda a universidade, trabalhamos com contrapartidas, a gente procura conservar esses parceiros que temos”.

Escrito por: Sônia Kaingáng, primeira indígena jornalista do povo Kaingáng, especializada em Educação, Diversidade e Cultura Indígena. Cobre temáticas indígenas em Educação, Patrimônio Cultural, Conhecimentos Tradicionais e Biodiversidade, tendo atuado profissionalmente em organizações indígenas nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sul. Atualmente pelo Instituto Kaingáng – Inka.

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ALGUNS INTEGRANTES DO GRUPO CULTURAL DE DANÇA DO ACAMPAMENTO FOSÁ,
“RÃ JUR”, NASCER DO SOL EM IDIOMA KAINGÁNG. Foto: Mari Teresinha Franco
PROJETOS CULTURAIS FLORESCERAM EM MEIO A PANDEMIA EM ALGUMAS ALDEIAS DO POVO KAINGÁNG NO RS.
Foto: Mari Teresinha Franco
IVAN CLAUDINO, JOVEM INDÍGENA INTEGRA TRABALHOS EDUCATIVOS E CULTURAIS NA COMUNIDADE SERRINHA.
Foto: Sônia Kaingáng

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