A Organização Indígena Instituto Kaingáng (Inka) lançará livro sobre a trajetória dos 15 anos de vida e trabalho do Centro Cultural Kanhgág Jãre, localizado na Terra Indígena Serrinha, no Rio Grande do Sul (RS), em dezembro deste ano.

A edição impressa do livro celebra a história do Ponto de Cultura Kanhgág Jãre, que trata-se do 1° Ponto de Cultura aprovado pelo Ministério da Cultura (MinC) em uma Terra Indígena no Brasil, cujo significado na língua Kaingáng é “Raiz Kaingáng”, apresentando aos leitores as condições do estabelecimento, desenvolvimento e execução de seu projeto cultural, construído nesta última década e meia na Comunidade Serrinha no RS.

15 anos de Ponto

O livro mostra um recorte do intenso trabalho de 15 anos exercido especialmente por mulheres indígenas do Povo Kaingáng, e de sua insistência pessoal e comunitária para erguer um espaço físico de importância cultural e educacional para o seu povo em meio a um território indígena no Brasil, como muitos, marcado pela falta de perspectivas de futuro, violência, pela erosão cultural sofrida por povos indígenas, somados aos desafios locais como por exemplo, conciliar o trabalho junto de familiares e parentes, que é rotina na vida institucional das organizações indígenas.

Para Susana Fakój, indígena Kaingáng, advogada e doutoranda em Educação e uma das organizadoras e escritoras do livro, assessora do Ponto de Cultura Kaingáng desde seu nascimento até hoje, explica como o trabalho do Ponto tornou-se realidade.

“O trabalho só foi possível graças aos profissionais indígenas envolvidos, às instituições parceiras, as lideranças e comunidades Kaingáng, a comunidade da Terra Indígena Serrinha onde se encontra sediado e, em especial, às raízes que deram sustentação a este belo trabalho que ao longo dos anos foi sendo construído pelos Kanhgág Kófa (idosos Kaingáng), cuja sabedoria tem oportunizado que gerações Kaingáng do presente e futuro possam usufruir da inestimável riqueza que compõe o patrimônio cultural material e imaterial do Povo Kaingáng“, afirma Susana.

O livro resgata ainda, os bastidores de uma realidade bem conhecida das organizações indígenas como a falta de recursos para projetos culturais, mostrando como as colaboradoras do Ponto, mulheres Kaingáng das mais diversas áreas do conhecimento, fizeram uso do trabalho voluntário para manter o Ponto de Cultura Kaingáng com suas portas abertas.

I SEMINÁRIO DE PROFESSORES INDÍGENAS: A PROTEÇÃO DOS
CONHECIMENTOS TRADICIONAIS.
Fonte: Divulgação/INKA 2006
OFICINA APRIMORAMENTO/CONFECÇÃO ARTESANATO KAINGÁNG.
Fonte: Divulgação/INKA 2006
KAIANE KAINGÁNG DA TERRA INDÍGENA SERRINHA, SETOR ALTO RECREIO, REPRESENTANDO O PONTO DE CULTURA
NO DESFILE DA MAIS BELA KAINGÁNG EM ABRIL DE 2019.
Foto: Fernanda Jófej
IMAGEM DE CESTARIA KAINGÁNG: ANÉIS, BRACELETES E BRINCOS COM ARTE PLUMÁRIA. EXPOSIÇÃO EM GENEBRA, SUÍÇA/2019.
Foto: Fernanda Jófej
MARIA GRIÁ. 106 ANOS. ANCIÃ, MESTRE DA CULTURA KAINGÁNG E MEMBRO DO PONTO DE CULTURA KANHGÁG JÃRE. SETOR PEDRAS BRANCAS. TERRA INDÍGENA SERRINHA EM ABRIL DE 2020.
Foto: Fernanda Jófej

Ponto de Conquistas

Gerenciado pelo Inka, o Ponto tornou-se referência em sua atuação na área da cultura e educação Kaingáng, trabalhando em parceria com lideranças, escolas indígenas e não indígenas e universidades da região, recebendo diversos prêmios por seus projetos como o 1º lugar no Prêmio Cultura Viva 2ª Edição – 2007; Concurso Pontos de Leitura 2008 (MinC), Prêmio Ponto de Valor 2009 (MinC e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD); Prêmio Cultura e Saúde 2010, Prêmio Cultura Digital 2010 (MinC), Circulando Saberes Indígenas 2012 (Fundação Biblioteca Nacional e MinC) e recentemente em 2018, o Prêmio Culturas Populares (MinC) em apoio ao projeto de revitalização da cerâmica tradicional Kaingáng.

A data de lançamento da obra no mês de dezembro deve ser divulgada nos próximos dias. O livro já está disponível para aquisição na versão impressa. Solicite a compra pelo e-mail institutokaingang@gmail.com

A Caminhada do Inka e seu Ponto de Cultura

O Inka, cuja missão é contribuir à revitalização, proteção e valorização da cultura junto ao povo indígena Kaingáng, foi fundada em 19 de abril de 2002 por indígenas Kaingáng, dando início a trajetória de atuação na implementação de projetos, sobretudo, dedicados à cultura e educação.

No começo dos trabalhos foram promovidas iniciativas em parceria com escolas indígenas da Terra Indígena Serrinha e Terra Indígena Ligeiro com apoio do Canal Futura. A partir destas experiências que, em 2005, o projeto Ponto de Cultura “Centro Cultural Kanhgág Jãre” foi inscrito no Edital nº 4, de 20 de abril de 2005, desenvolvido no âmbito do Programa Cultura Viva do MinC. O Ponto de Cultura foi idealizado por sua coordenadora, a liderança e educadora, Andila Kaingáng, a partir de sua experiência na Licenciatura Intercultural no Mato Grosso (a qual concluiu em 2006), em que acadêmicos indígenas pertencentes a 36 povos indígenas do Brasil frequentavam a graduação, durante a qual realizavam apresentações culturais, exibindo danças, cantos, vestimentas e adornos tradicionais, provocando entre os Kaingáng que frequentavam o curso, constrangimento pela erosão cultural sofrida.

Assim nasce o Ponto de Cultura do Inka, por intermédio do qual desde 2006 vem promovendo ações de valorização da cultura e conhecimentos tradicionais com os Kanhgág Kófa ou anciãos Kaingáng em parceria com escolas indígenas, formação de capacidade tendo em vista a melhoria da qualidade de vida da comunidade Kaingáng, disponibilização de espaço de visitação permanente para socialização da cultura Kaingáng por meio de exposições, apresentações e comercialização de artesanato indígena, tendo as peças do acerco do Ponto sido selecionadas entre instituições do mundo inteiro para exibir a arte Kaingáng em exposições na Europa e no âmbito das Nações Unidas em 2019. Ainda, a realização de palestras e oficinas ministradas à profissionais de escolas da rede pública e particular de ensino e universidades, mediante a informação/difusão das temáticas relacionadas à História e Patrimônio Cultural dos Povos Indígenas, sobretudo do Povo Kaingáng da região Sul do Brasil.

Escrito por: Sônia Kaingáng, jornalista indígena independente, especializada em Educação, Diversidade e Cultura Indígena.

Com colaboração de: Susana Fakój, advogada indígena e sócia-fundadora do Inka.

Reprodução permitida desde que citada a fonte.

One Thought to “Livro sobre trajetória de 15 anos do Ponto de Cultura Kaingáng será lançado pelo INKA em dezembro”

  1. Marco Antônio F.Telles

    Uma ótima noite, parabéns pelo trabalho, moro em Curitiba, pr natural do RS, cidade de Irai filho de mãe Kaingang,com pai italiano, gostaria de saber se tem o livro e o valor. Atenciosamente gratidão.

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