No último dia da programação, foi a vez dos participantes da Terra Indígena Votouro, do Rio Grande do Sul, realizarem as Oficinas de Formação em Patrimônio Cultural Kaingáng, na sexta, 23, em Coxilha/RS.
A programação de três dias das Oficinas foi encerrada com a presença dos Kaingáng de Votouro, do município de Benjamin Constant do Sul, no RS, que puderam interagir com os demais participantes e oficineiros.
Depoimento dos Kaingáng sobre as oficinas
Durante toda a manhã, as ceramistas Deolinda e Neusa da Terra Indígena Icatu, de São Paulo, e a artesã Camila Candinho do RS, compartilharam experiências, técnicas e histórias com os aprendizes, como a professora Diva Cleci Claudino, da Terra Indígena Guarita, em Tenente Portela, RS, que veio na companhia do esposo, Elvis Antônio Ribeiro e do filho, Arthur Kẽvĩg Ribeiro.
“A gente só ouvia falar que existiam utensílios feitos de barro, mas eu nunca tinha pegado para fazer e gostei, aprendi bastante com a técnica que elas fazem, quanto tempo leva, e que se alisa com pedra, depois a queima, e se ela estará boa para o cozimento dos alimentos. Foi um aprendizado bastante rico pra mim, vou levar para minha comunidade e para os meus professores. Eu também trouxe meu filho Arthur que aprendeu junto comigo e eu tenho certeza que vai ficar na memória dele esse aprendizado. Agradeço ao Instituto pela iniciativa de proporcionar aos professores esse curso”, falou Diva.
Outros professores se dedicaram à tecelagem com grafismos Kaingáng em tear de prego, com grande número de homens na oficina, que costuma ter uma presença feminina maior.
O professor Ademir Pinto, da Terra Indígena Votouro, há 24 anos como professor pelo Estado do RS no local, veio através de um convite da professora Andila e expressou sua opinião sobre as oficinas.
“Eu vim para esse evento de aprendizagem da cultura, gostei muito de participar. Esse conhecimento que a gente está adquirindo, vamos levar para a sala de aula para trabalhar com as crianças, compartilhar com os colegas e não deixar que a nossa cultura se perca. Isso é de grande valorização para o nosso trabalho enquanto professor na nossa escola”, afirma Ademir, segurando a peça que confeccionou durante a oficina.
O artista Soverino Kaingáng, conhecido como “Xozão”, da Terra Indígena Apucaraninha, no Paraná, realizou uma mostra do seu trabalho em pintura de parede, tendo seu trabalho muito apreciado pelos Kaingáng presentes nas oficinas. “Através da pintura, podemos divulgar a cultura Kaingáng pelo Brasil e pelo mundo”, agradeceu Xozão.
Os jovens Kaingáng da Terra Indígena Kógũnh Mág, de Canela/RS, Iagner da Silva e Ozéias da Silva são irmaõs e também avaliaram as oficinas.
“Foi muito bom participar das oficinas nesta instituição Kaingáng, nós conseguimos aprender muitas coisas na tecelagem, também fazer os materiais como antigamente, os pratos, e temos ali os modelos e estou levando para a minha comunidade, para registrar os nossos antepassados, para a memória dos nossos filhos, para que eles possam também aprender a fazer, e manter a nossa cultura dentro da sala de aula, na comunidade, e isso é muito importante pra mim”, declarou Iagner.
Na palestra final, o professor Kaingáng e historiador Bruno Ferreira, destacou a importância do espaço do Memorial. “Aqui será um espaço de pesquisa para os conhecimentos, sabedorias e histórias do povo Kaingáng e por isso é importante termos o Memorial para nós e também para os não indígenas, porque vai fortalecer essa relação da reciprocidade, da troca de saberes, de conhecimentos. O fato de estarmos juntos já é uma grande formação”, concluiu o historiador.
E com o fim de contribuir com a dimensão econômica e o fortalecimento da rede produtiva de Arte Kaingáng, especialmente dos agentes culturais envolvidos, o Instituto Kaingáng adquiriu peças artísticas dos Kaingáng participantes e que irão compor o acervo do Memorial Kaingáng, fazendo parte da Exposição a ser promovida no local em 2024.