Última Consulta Pública ao povo Kaingáng, dessa vez de São Paulo, para a criação de protocolo comunitário de uso de expressões culturais Kaingáng em obra audiovisual, pauta com sensibilidade, a relevância cultural do Kujá (líder espiritual Kaingáng), nesta segunda (06), em Tupã (SP).
O trabalho das Consultas é liderado pelas Organizações Indígenas Instituto Kaingáng – Inka, Ponto de Cultura Kanhgág Jãre e Instituto Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual (Inbrapi), em um ciclo de organização que já dura meses, com a realização de uma (01) Consulta Pública em cada estado onde habita o povo Kaingáng no Brasil: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
Esta é a 4ª e última Consulta Pública e ocorre no Museu Histórico e Pedagógico Índia Vanuíre, gerido em parceria com a Associação Cultural de Apoio ao Museu Casa de Portinari (Acam Portinari), um espaço privilegiado para as discussões que respira a valorização da cultura indígena no Brasil.
O desafio das Consultas é reunir as diversas propostas do povo Kaingáng sobre o que pensam do uso de suas expressões culturais tradicionais em obra audiovisual e se concordam ou não com esta prática, algo inédito entre o terceiro maior povo em população indígena do país, o povo Kaingáng.
Os estados do RS, SC e PR já entraram em um consenso de que a iniciativa de obra audiovisual sobre a qual as Consultas tem foco, deve seguir adiante e sair do papel, trazendo benefícios coletivos esperados pelo povo Kaingáng.
Roda de Conversa
Participaram da Roda de Conversa da Consulta Pública, a presidente do Inka, Andila Kaingáng, a membro do Inka e advogada, Susana Fakój, o professor e historiador indígena Kaingáng, Bruno Ferreira, a gerente do Museu Histórico e Pedagógico Índia Vanuíre, Tamimi Borsatto, e o membro da Produtora Floresta e advogado, Thiago Pedroso.
Em suas palavras na Roda, a gerente do Museu Índia Vanuíre, Tamimi Borsatto, pontuou, “deixo meus agradecimentos a todos aqui presentes e em nome dos diretores da Acam Portinari, quero dizer que sou muito grata pela escolha do nosso Museu Índia Vanuíre como local para o término das Consultas, um espaço que traz muito em seu acervo os representantes das diversas etnias brasileiras e em especial, hoje é o dia dos nossos Kaingáng”, enfatizou Tamimi.
Protocolo Comunitário de SP
As propostas do povo Kaingáng de SP, o último estado a ser consultado, trouxe complementos importantes às demais questões levantadas pelos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná onde concentra-se a maior parcela da população Kaingáng. Os participantes das aldeias indígena Icatu e Vanuíre propuseram como preocupação a perda da coletividade, a participação da juventude, o respeito aos diferentes dialetos Kaingáng e em especial, a valorização dos Kujás e da espiritualidade Kaingáng, uma proposta que não havia sido pautada em nenhuma das outras Consultas.
A Kujá da Terra Indígena Vanuíre, Dirce Kaingáng expôs o seguinte em sua fala. “A nossa cultura ficou adormecida por muitos anos, a minha mãe me ensinou sobre o sagrado. O sagrado sempre foi protegido, nunca foi comercializado. O sagrado para nós, a gente não entrega para ninguém, o sagrado a gente protege. Os Kujás também não são respeitados. Muitas vezes, as pessoas olham para o Kujá com o olhar diferente. Sem os Kujás a cultura enfraquece, porque se não tiver os Kujás fica difícil refortalecer a cultura”, alertou.
As discussões da Consulta Pública seguem a amanhã, terça (07), com a participação de representantes indígenas de SP como lideranças, profissionais, mulheres e acadêmicos indígenas, no Museu Índia Vanuíre, centro da cidade de Tupã (SP).
Escrito por: Sônia Kaingáng. jornalista indígena independente, especializada em Educação, Diversidade e Cultura Indígena.
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