Descubra a seguir três atitudes na prevenção e combate a Covid-19 que enfrentaram maior resistência para serem praticadas entre indígenas do povo Kaingáng, segundo profissionais indígenas da saúde de uma das aldeias mais populosas do RS, a Terra Indígena Serrinha.
*Informe Aldeia em Pandemia.
A pandemia de Covid-19 impôs mudanças culturais alterando comportamentos simples que vão desde um aperto de mão a manter uma distância segura entre as pessoas.
Nas aldeias indígenas não foi diferente, com o detalhe de que a prevenção e combate a Covid-19 é um desafio realmente à parte em lugares assim, dada a organização social e a dinâmica de vida das populações indígenas dispostas em uma rede de famílias numerosas e que convivem umas com as outras, muitas em pequenos territórios, como é o caso do povo Kaingáng do Rio Grande do Sul. Conheça as três principais medidas que dão trabalho para serem cumpridas entre eles nesta pandemia.
1 – Usar a máscara para ir ao Posto de Saúde
Essa é a medida citada como a menos cumprida na aldeia. Seja por esquecimento, por não dispor de máscara ou falta de costume, essa atitude pode ser muito perigosa. Em geral, os postos de saúde nas aldeias possuem ambientes pequenos, onde durante a pandemia também é realizada a primeira frente de atendimento aos casos suspeitos da doença, o que acaba sendo um local com alto risco de contaminação de Covid-19.
2 – Evitar sair para outras aldeias
O trânsito para outras aldeias indígenas tem sido desestimulado nesse período de pandemia para evitar a propagação da Covid-19. Porém, a existência de um círculo familiar, de trabalho, estudos e outras causas não específicas fazem parte de uma prática bem conhecida entre os Kaingáng, a de visitar os parentes indígenas que estão nas aldeias próximas ou mesmo dentro da própria aldeia onde moram. Controlar essa prática comum entre os Kaingáng foi uma medida difícil na pandemia.
3 – Isolamento social dos mais velhos: a matriarca Kaingáng
Não foram poucas as matriarcas que se contaminaram com a Covid-19, dada a razão da família indígena estar estruturada ao redor dessa mulher distinta na cultura Kaingáng. As refeições, as notícias da aldeia, assuntos importantes, os netos, bisnetos, filhos, noras, genros, quem chega e quem sai, a vida acontece onde ela está: a matriarca Kaingáng, mulheres fortes, guerreiras e… sinônimo de uma casa cheia.
Por estas razões, os riscos de contaminação durante a pandemia de mulheres Kaingáng tem sido altamente elevado, tornando a saúde da mulher indígena digna de atenção enquanto pilar fundamental na sustentação de toda a cultura Kaingáng e de suas comunidades.
Escrito por: Sônia Kaingáng, primeira indígena jornalista do povo Kaingáng, especializada em Educação, Diversidade e Cultura Indígena. Cobre temáticas indígenas em Educação, Patrimônio Cultural, Conhecimentos Tradicionais e Biodiversidade, tendo atuado profissionalmente em organizações indígenas nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sul. Atualmente pelo Instituto Kaingáng – Inka.
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