O documento expedido pela Justiça Federal reconhece o esbulho ao Ponto de Cultura Kanhgág Jãre, gerenciado pelo Instituto Kaingáng há mais de 16 anos, que abrigava peças de valor inestimável Kaingáng, vestimentas, quadros, registros de pesquisas e inúmeros telas, apresentadas pelo Instituto em museus de arte ao redor do mundo como na França e na Suíça.

A diligência ocorreu nesta última sexta (11), e recebeu o apoio da Força Nacional e da Polícia Federal, sendo mantida em sigilo até sua realização em caráter de urgência em vista da invasão e depredação ao Ponto de Cultura Kanhgág Jãre da Terra Indígena Serrinha, no município de Ronda Alta, no Rio Grande do Sul, ocorrida no final de 2021, seguindo os esbulhos, que são parte dos diversos atos de violência que dominam a aldeia Serrinha.

O local preservava vestimentas, adornos Kaingáng, peças de coleções artísticas de outros povos indígenas brasileiros, livros de autores indígenas, inclusive de pesquisadores Kaingáng, alguns deles, membros do Instituto Kaingáng, peças de valor cultural incalculável e o acervo histórico e documental de saberes e fazeres do povo Kaingáng, resultado do trabalho de resgate ao longo de 16 anos, especialmente, junto aos kanhgág kófa, anciãos Kaingáng, tidos como bibliotecas vivas.

Perda inestimável

A violação ao Ponto de Cultura Kanhgág Jãre foi avaliada pelo Instituto Kaingáng como uma perda inestimável, não apenas ao Instituto, mas a todo povo Kaingáng e ao Brasil não indígena que precisa conhecer e valorizar as raízes dos povos originários.

O acervo foi encontrado amontoado em Serrinha em condições precárias, sendo resgatados principalmente, telas, cestarias e exemplares das publicações Ponto de Cultura Kanhgág Jãre: 15 anos, lançado pelo Instituto em 2020, e Expressões Culturais Tradicionais Kaingáng, de 2021.

Entre os bens não localizados, estão obras do artista Jaider Esbell do povo Macuxi, falecido em novembro de 2021, peças de tecelagem do povo Mapuche, doadas ao Instituto pelo cacique Rodolfo Funes, também já falecido, peças cerâmicas produzidas por indígenas Kaingáng em projetos de revitalização cultural desenvolvidos pelo Instituto e universidades da região, além de troféus, artefatos Kaingáng, telas, documentos institucionais e móveis.

As violações a direitos humanos são somadas aos crimes contra o patrimônio cultural ocorrido na Terra Indígena Serrinha, ao promover a destruição e o apagamento da memória viva Kaingáng e negar a importância e valor da história e cultura Kaingáng, da atuação que envolve o esforço de artesãos, artistas, velhos, jovens, crianças, mestres e pesquisadores indígenas.

Investigações seguem

No final de 2021, o Ponto de Cultura Kaingáng foi invadido e transformado em moradia por familiares ligados diretamente ao cacique, hoje presidiário, seguindo as investigações sobre esta rede de indivíduos, que também foram identificados pela Polícia Federal residindo nas casas que pertenciam as famílias indígenas expulsas de Serrinha. Além das invasões, foi registrado o furto de bens materiais, e até as roupas das vítimas não foram poupadas, tendo casas sido completamente destruídas.

Os envolvidos na violação ao Ponto de Cultura Kanhgág Jãre, bem como das casas dos indígenas expulsos, tem sido autuados e respondem ações de reintegração. Com o avanço das investigações, responderão penalmente.

Em breve informaremos novos avanços em nossa página, continue nos acompanhando e assine e compartilhe nossa petição na internet, que tem recebido o apoio de inúmeras pessoas no Brasil e de outras regiões do mundo, que acreditam na punição de todos os envolvidos em práticas de crimes em terras indígenas, a exemplo da prisão da liderança indígena de Serrinha em dezembro de 2021.

Somos gratas pela sua colaboração. Assine AQUI.

Ponto de Valor

O Ponto de Cultura Kaingáng trata-se de um importante espaço educativo e cultural indígena Kaingáng, inúmeras vezes premiado no Brasil, a exemplo do prêmio “Ponto de Valor”, com reconhecida atuação pelo Ministério da Cultura (MinC) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), entre outros. É o 1⁰ Ponto de Cultura situado em Terra Indígena no Brasil e único com 16 anos de atuação junto ao povo Kaingáng, contando com trabalho de referência em protagonismo indígena feminino na pesquisa, registro e divulgação do patrimônio cultural Kaingáng com o apoio especial dos velhos Kaingáng, estimados na cultura deste povo.  

ENTRE OS ITENS RESGATADOS ESTÃO TELAS, CESTARIAS
E EXEMPLARES DE PUBLICAÇÕES DO INSTITUTO KAINGÁNG.

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