A educadora Andila Kaingáng, a escritora Eliane Potiguara, a ativista indígena Tuíra Kayapó e a anciã Bernaldina José Pedro, vítima de Covid-19 foram reconhecidas por suas trajetórias de lutas no movimento indígena brasileiro.

O evento integra a programação da Campanha 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres promovido pela Secretaria da Mulher da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e da Comissão de Direitos Humanos e Minoria da Câmara dos Deputados, realizado nesta sexta (10), em Brasília (DF).

O evento, que ocorreu em formato presencial e virtual, teve como foco as diversas formas de violência enfrentadas por mulheres, fazendo referência à celebração do Dia Internacional dos Direitos Humanos, estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) e celebrado na data.

Estiveram presentes mulheres indígenas reconhecidas no cenário das Organizações Indígenas do Brasil como Sônia Guajajara da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Cristiane Pankararu da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga), Nara Baré da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Márcia Kambeba, primeira ouvidora municipal indígena do Brasil e Joênia Wapichana, primeira deputada federal indígena do Brasil, realizando a abertura do evento.

OEA aponta violação de direitos fundamentais de mulheres indígenas

O evento divulgou informações da Organização dos Estados Americanos (OEA), que apontam as mulheres indígenas  como suscetíveis a diferentes formas de discriminação histórica que resultam na violação de seus direitos mais fundamentais, gerando obstáculos como o acesso ao mercado de trabalho, dificuldade geográfica e econômica para atendimento nos serviços de saúde e educação, barreiras estruturais para sua participação no processo político, ameaças aos seus direitos territoriais, etnocídio e genocídio, além da menção às dificuldades para o registro das denúncias e a falta de conscientização para que políticas específicas sejam criadas no sentido de diminuir os casos de violência contra as mulheres indígenas.

Homenagem às mulheres indígenas

A professora Andila Kaingáng foi homenageada juntamente com a escritora Eliane Potiguara, a ativista indígena Tuíra Kayapó e a mestre e anciã do povo Macuxi Bernaldina José Pedro, vítima de Covid-19, sendo elas reconhecidas por suas lutas e atuação no Movimento Indígena Nacional.

Andila exerce militância desde seus 17 anos, quando ainda frequentava o Curso de Formação de Monitores Bilíngues Kaingáng do Rio Grande do Sul, no início da década de 70, em prol do fortalecimento da Educação Escolar Indígena.

O curso constitui-se em um marco para os povos indígenas, pois foi o primeiro curso de Formação de Professores Bilíngues no Brasil, assim como também merece destaque o 3º Grau Indígena (Unemat), realizado pela professora Andila, por ser o primeiro curso de graduação em Educação Específica para povos indígenas na América Latina, tendo colado grau 198 professores indígenas pertencentes a 36 povos indígenas do Brasil, em junho de 2006.

Como sócia fundadora da Organização Indígena Instituto Kaingáng (INKA), fundada em 2002, Andila deu continuidade ao seu trabalho em educação Kaingáng, onde também é coordenadora do Ponto de Cultura – Centro Cultural Kanhgág Jãre, projeto idealizado pela mesma a fim de trabalhar com professores indígenas Kaingáng.

O Ponto de Cultura Kanhgág Jãre foi o primeiro projeto de Ponto de Cultura implementado em uma Terra Indígena no Brasil, sob a responsabilidade de uma organização indígena, voltado ao fortalecimento e valorização da cultura do Povo Kaingáng da região sul do Brasil, território que historicamente habitam.

Por diferentes iniciativas, ações e projetos, o Ponto de Cultura Kanhgág Jãre tornou-se um referencial em educação e cultura Kaingáng graças a experiência e atuação da professora Andila. Conheça melhor sobre a trajetória de trabalho do INKA aqui e a atuação do Ponto de Cultura Kaingáng aqui.

Violência e Perseguição às famílias indígenas da Serrinha

Andila Kaingáng está entre as famílias expulsas da Terra Indígena Serrinha (RS) sendo uma das matriarcas importantes da família Inácio e que contribuiu fundamentalmente na retomada da Comunidade de Serrinha no ano de 1996. O Ponto de Cultura Kaingáng coordenado por Andila foi invadido e saqueado, sendo transformado em moradia, veja aqui.

No total, foram expulsas e saqueadas 28 famílias da Serrinha que vinham denunciando inúmeras situações geradoras de conflitos no local como a concentração de terras indígenas para o agronegócio.

No evento, a refugiada Ângela Nunká Ferreira do povo Kaingáng denunciou a violência contra a mulher indígena ao descrever a execução de dois indígenas em uma emboscada promovida pela liderança da Terra Indígena Serrinha, da qual ela e as filhas são sobreviventes.                                                                                                         

Ao longo do evento que propõe a elaboração de um projeto de lei voltado à Segurança e Proteção da Mulher Indígena, as mulheres indígenas afirmaram que a violência contra a mulher não é cultural e a tradicionalidade não pode ser alegada para encobrir feminicídios e violência contra meninas e mulheres indígenas.

Nesse cenário da violência contra a mulher indígena, Joênia concluiu como “imprescindível a criação de meios de combate à violência contra as mulheres indígenas, numa luta de resistência e insistência para não deixar que os nossos direitos sejam violados”, afirmou a deputada.

A EDUCADORA ANDILA KAINGÁNG, A ESCRITORA ELIANE POTIGUARA E A ATIVISTA TUÍRA KAYAPÓ FORAM HOMENAGEADAS NO DIA INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS EM EVENTO NO CONGRESSO NACIONAL, NESTA SEXTA, DIA 10 DE DEZEMBRO.
IMAGEM: DIVULGAÇÃO – REDES SOCIAIS.

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